segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

TEMPO DE QUERER

...
E por acaso não sabes que
O poeta é um fingidor e que
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente?
Não entendes que
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada?
É assim que é feito.
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
E como é bom
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Então não hesite
Põe a tua mão
Sobre o meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo.
Apressa-te
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Não te preocupes
Volta a ser criança em meus braços pois
Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem o saber? Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.
Isso nada importa pois
Quanto mais fundamente penso, mais
Profundamente me descompreendo.
O saber é a inconsciência de ignorar...
Não temas...chega mais perto
E vem comigo sonhar
Um sonho permitido pela cumplicidade
Pois nos tornamos um já que
Eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
E em minha voz a tua voz.
.
Elen Nunes
(Poema criado a partir de fragmentos de poemas de Fernando Pessoa)





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